Corpo psíquico e suas relações fantasiosas

Foto: Juliana Pozzati
Por Elenise Xisto
O conjunto dessa produção artística, realizada com tinta acrílica sobre tela, aborda questões sobre o corpo erógeno e libidinal, animalidade, fantasia, metamorfose e repetição. Com isso, a criação de uma personagem enseja refletir sobre os modos pelos quais um corpo, do ponto de vista psíquico, pode se constituir.
O corpo psíquico corresponde a autopercepção que temos de nós próprios a partir das camadas psíquicas. Nesse sentido, frente a suas vivências, a autopercepção poderá adquirir marcas profundas, que culminarão em distorções sobre sua autoimagem. Assim, esta poderá manifestar estranhas formas-pensamentos inconscientes e, sem razões aparentes, se sujeitar a traços-comportamentais de algum animal da sua desajustada psiquê. Por conseguinte, o corpo psíquico, possuidor de irreverentes possibilidades associativas, escolherá aquele animal capaz de prover a sua própria sobrevivência.
Na produção em artes visuais aqui apresentada, este corpo erógeno se mostra como o animal coelho (a). Possuidor de alta predisposição libidinal da sua própria natureza, ele é também o animal dócil, que suscita toques e carícias. Paradoxalmente, é estigmatizado por ser a presa; nunca o predador. No universo infantil, o coelho integra o imaginário lúdico e fantasioso, revelando doçura e inocência. Além disso, o acréscimo da cor rosa adquire dimensões significativas para as meninas.
Nas imagens, o corpo antropomórfico assume novas configurações a cada cena: ora em forma integral, ora fragmentado, ora metamorfoseado, dentre outras. Trata-se de um corpo cujo “circuito interno”, ou excesso de atividade libidinal, agrega diversas metamorfoses. Guiadas pela fantasia, elas transbordam em si mesmas e em tudo que lhes circunda, originando novas formas de existir.